ARTIGO 4
O SACRAMENTO DA PENITÊNCIA
E DA RECONCILIAÇÃO
1422. «Aqueles que se aproximam do sacramento da
Penitência obtêm da misericórdia de Deus o perdão da ofensa
a Ele feita e, ao mesmo tempo, são reconciliados com a
Igreja, que tinham ferido com o seu pecado, a qual, pela
caridade, exemplo e oração, trabalha pela sua conversão»
(3).
FOTOS DA CELEBRAÇÃO DA PENITÊNCIA DAS
CRIANÇAS QUE REALIZARAM PRIMEIRA EUCARISTIA NESTE DOMINGO
I. Como se chama este sacramento?
1423. É chamado sacramento da conversão,
porque realiza sacramentalmente o apelo de Jesus à conversão
(4) e o esforço de regressar à casa do Pai (5) da qual o
pecador se afastou pelo pecado.
É chamado sacramento da Penitência, porque
consagra uma caminhada pessoal e eclesial de conversão, de
arrependimento e de satisfação por parte do cristão pecador.
1424. É chamado sacramento da confissão,
porque o reconhecimento, a confissão dos pecados perante o
sacerdote é um elemento essencial deste sacramento. Num
sentido profundo, este sacramento é também uma «confissão»,
reconhecimento e louvor da santidade de Deus e da sua
misericórdia para com o homem pecador.
E chamado sacramento do perdão, porque, pela
absolvição sacramental do sacerdote. Deus concede ao
penitente «o perdão e a paz» (6).
E chamado sacramento da Reconciliação, porque dá
ao pecador o amor de Deus que reconcilia: «Deixai-vos
reconciliar com Deus» (2 Cor 5, 20). Aquele que vive
do amor misericordioso de Deus está pronto para responder ao
apelo do Senhor: «Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão»
(Mt 5, 24).
II. Porquê, um sacramento de
Reconciliação depois do Baptismo?
1425. «Vós fostes lavados, fostes santificados,
fostes justificados pelo nome do Senhor Jesus Cristo e pelo
Espírito do nosso Deus» (1 Cor 6, 11).
Precisamos de tomar consciência da grandeza do dom de Deus
que nos foi concedido nos sacramentos da iniciação cristã,
para nos apercebermos de até que ponto o pecado é algo de
inadmissível para aquele que foi revestido de Cristo (7).
Mas o apóstolo São João diz também: «Se dissermos que não
temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não
está em nós» (1 Jo 1, 8). E o próprio Senhor nos
ensinou a rezar: «Perdoai-nos as nossas ofensas» (Lc
11, 4 ), relacionando o perdão mútuo das nossas ofensas com
o perdão que Deus concederá aos nossos pecados.
1426. A conversão a Cristo, o novo
nascimento do Baptismo, o dom do Espírito Santo, o corpo e
sangue de Cristo recebidos em alimento, tornaram-nos «santos
e imaculados na sua presença» (Ef 1, 4), tal
como a própria Igreja, esposa de Cristo, é «santa e
imaculada na sua presença» (Ef 5, 27). No
entanto, a vida nova recebida na iniciação cristã não
suprimiu a fragilidade e a fraqueza da natureza humana, nem
a inclinação para o pecado, a que a tradição chama
concupiscência, a qual persiste nos baptizados, a fim de
que prestem as suas provas no combate da vida cristã,
ajudados pela graça de Cristo (8). Este combate é o da
conversão, em vista da santidade e da vida eterna, a que
o Senhor não se cansa de nos chamar (9).
III. A conversão dos baptizados
1427. Jesus chama à conversão. Tal apelo é parte
essencial do anúncio do Reino: «O tempo chegou ao seu termo,
o Reino de Deus está próximo: convertei-vos e acreditai na
boa-nova» (Mc 1, 15). Na pregação da Igreja, este
apelo dirige-se, em primeiro lugar, àqueles que ainda não
conhecem Cristo e o seu Evangelho. Por isso, o Baptismo é o
momento principal da primeira e fundamental conversão. É
pela fé na boa-nova e pelo Baptismo (10) que se renuncia ao
mal e se adquire a salvação, isto é, a remissão de todos os
pecados e o dom da vida nova.
1428. Ora, o apelo de Cristo à conversão continua
a fazer-se ouvir na vida dos cristãos. Esta segunda
conversão é uma tarefa ininterrupta para toda a Igreja,
que «contém pecadores no seu seio» e que é, «ao mesmo tempo,
santa e necessitada de purificação, prosseguindo
constantemente no seu esforço de penitência e de renovação»
(11). Este esforço de conversão não é somente obra humana. É
o movimento do «coração contrito» (12) atraído e movido pela
graça (13) para responder ao amor misericordioso de Deus,
que nos amou primeiro (14).
1429. Testemunho disto mesmo, é a conversão de
Pedro, depois de três vezes ter negado o seu mestre. O olhar
infinitamente misericordioso de Jesus provoca-lhe lágrimas
de arrependimento (15) e, depois da ressurreição do Senhor,
a tríplice afirmação do seu amor para com Ele (16). A
segunda conversão tem, também, uma dimensão comunitária.
Isto aparece no apelo dirigido pelo Senhor a uma Igreja
inteira: «Arrepende-te!» (Ap 2, 5-16).
Santo Ambrósio diz, a respeito das duas conversões que,
na Igreja, «existem a água e as lágrimas: a água do
Baptismo e as lágrimas da Penitência»
IV. A penitência interior
1430. Como já acontecia com os profetas, o apelo
de Jesus à conversão e à penitência não visa primariamente
as obras exteriores, «o saco e a cinza», os jejuns e as
mortificações, mas a conversão do coração, a penitência
interior: Sem ela, as obras de penitência são estéreis e
enganadoras; pelo contrário, a conversão interior impele à
expressão dessa atitude cm sinais visíveis, gestos e obras
de penitência (18).
1431. A penitência interior é uma reorientação
radical de toda a vida, um regresso, uma conversão a Deus de
todo o nosso coração, uma rotura com o pecado, uma aversão
ao mal, com repugnância pelas más acções que cometemos. Ao
mesmo tempo, implica o desejo e o propósito de mudar de
vida, com a esperança da misericórdia divina e a confiança
na ajuda da sua graça. Esta conversão do coração é
acompanhada por uma dor e uma tristeza salutares, a que os
Santos Padres chamaram animi cruciatus (aflição do
espírito), compunctio cordis (compunção do coração)
(19).
1432. O coração do homem é pesado e endurecido. É
necessário que Deus dê ao homem um coração novo (20). A
conversão é, antes de mais, obra da graça de Deus, a qual
faz com que os nossos corações se voltem para Ele:
«Convertei-nos, Senhor, e seremos convertidos» (Lm 5,
21). Deus é quem nos dá a coragem de começar de novo.
É ao descobrir a grandeza do amor de Deus que o nosso
coração é abalado pelo horror e pelo peso do pecado, e
começa a ter receio de ofender a Deus pelo pecado e de estar
separado d'Ele. O coração humano converte-se, ao olhar para
Aquele a quem os nossos pecados trespassaram (21).
«Tenhamos os olhos fixos no sangue de Cristo e
compreendamos quanto Ele é precioso para o seu Pai, pois
que, derramado para nossa salvação, proporcionou ao mundo
inteiro a graça do arrependimento» (22).
1433. Depois da Páscoa, é o Espírito Santo que
«confunde o mundo no tocante ao pecado», isto é, faz ver ao
mundo o pecado de não ter acreditado n'Aquele que o Pai
enviou (23). Mas este mesmo Espírito, que desmascara o
pecado, é o Consolador (24) que dá ao coração do homem a
graça do arrependimento e da conversão (25).
V. As múltiplas formas da penitência na vida cristã
1434. A penitência interior do cristão pode ter
expressões muito variadas. A Escritura e os Padres insistem
sobretudo em três formas: o jejum, a oração e a esmola
que exprimem a conversão, em relação a si mesmo, a Deus
e aos outros. A par da purificação radical operada pelo
Baptismo ou pelo martírio, citam, como meios de obter o
perdão dos pecados, os esforços realizados para se
reconciliar com o próximo, as lágrimas de penitência, a
preocupação com a salvação do próximo (27), a intercessão
dos santos e a prática da caridade «que cobre uma multidão
de pecados» (1 Pe 4, 8).
1435. A conversão realiza-se na vida quotidiana
por gestos de reconciliação, pelo cuidado dos pobres, o
exercício e a defesa da justiça e do direito (28), pela
confissão das próprias faltas aos irmãos, pela correcção
fraterna, a revisão de vida, o exame de consciência, a
direcção espiritual, a aceitação dos sofrimentos, a coragem
de suportar a perseguição por amor da justiça. Tomar a sua
cruz todos os dias e seguir Jesus é o caminho mais seguro da
penitência (29).
1436. Eucaristia e Penitência. A conversão
e a penitência quotidianas têm a sua fonte e alimento na
Eucaristia: porque na Eucaristia torna-se presente o
sacrifício de Cristo, que nos reconciliou com Deus: pela
Eucaristia nutrem-se e fortificam-se os que vivem a vida de
Cristo: «ela é o antídoto que nos livra das faltas
quotidianas e nos preserva dos pecados mortais» (30).
1437. A leitura da Sagrada Escritura, a oração da
Liturgia das Horas e do Pai Nosso, todo o acto sincero de
culto ou de piedade reavivam em nós o espírito de conversão
e de penitência e contribuem para o perdão dos nossos
pecados.
1438. Os tempos e os dias de penitência no
decorrer do Ano Litúrgico (tempo da Quaresma, cada
sexta-feira em memória da morte do Senhor) são momentos
fortes da prática penitencial da Igreja (31). Estes tempos
são particularmente apropriados para os exercícios
espirituais, as liturgias penitenciais, as peregrinações em
sinal de penitência, as privações voluntárias como o jejum e
a esmola, a partilha fraterna (obras caritativas e
missionárias).
1439 O dinamismo da conversão e da penitência
foi maravilhosamente descrito por Jesus na parábola do
«filho pródigo», cujo centro é «o pai misericordioso» (32):
o deslumbramento duma liberdade ilusória e o abandono da
casa paterna: a miséria extrema em que o filho se encontra
depois de delapidada a fortuna: a humilhação profunda de se
ver obrigado a guardar porcos e, pior ainda, de desejar
alimentar-se das bolotas que os porcos comiam: a reflexão
sobre os bens perdidos: o arrependimento e a decisão de se
declarar culpado diante do pai: o caminho do regresso: o
acolhimento generoso por parte do pai: a alegria do pai: eis
alguns dos aspectos próprios do processo de conversão. O
fato novo, o anel e o banquete festivo são símbolos desta
vida nova, pura, digna, cheia de alegria, que é a vida do
homem que volta para Deus e para o seio da família que é a
Igreja. Só o coração de Cristo, que conhece a profundidade
do amor do seu Pai, pôde revelar-nos o abismo da sua
misericórdia, de um modo tão cheio de simplicidade e beleza.
VI. O sacramento da Penitência e da Reconciliação
1440. O pecado é, antes de mais, ofensa a Deus,
ruptura da comunhão com Ele. Ao mesmo tempo, é um atentado
contra a comunhão com a Igreja. É por isso que a conversão
traz consigo, ao mesmo tempo, o perdão de Deus e a
reconciliação com a Igreja, o que é expresso e realizado
liturgicamente pelo sacramento da Penitência e Reconciliação
(33).
SÓ DEUS PERDOA O PECADO
1441. Só Deus perdoa os pecados (34). Jesus,
porque é Filho de Deus, diz de Si próprio: «O Filho do Homem
tem na terra o poder de perdoar os pecados» (Mc 2,
10) e exerce este poder divino: «Os teus pecados são-te
perdoados!» (Mc 2, 5) (35). Mais ainda: em virtude da
sua autoridade divina, concede este poder aos homens para
que o exerçam em seu nome.
1442. Cristo quis que a sua Igreja fosse, toda
ela, na sua oração, na sua vida e na sua actividade, sinal e
instrumento do perdão e da reconciliação que Ele nos
adquiriu pelo preço do seu sangue. Entretanto, confiou o
exercício do poder de absolvição ao ministério apostólico. É
este que está encarregado do «ministério da reconciliação»
(2 Cor 5, 18). O apóstolo é enviado «em nome de
Cristo» e «é o próprio Deus» que, através dele, exorta e
suplica: «Deixai-vos reconciliar com Deus» (2 Cor 5,
20).
RECONCILIAÇÃO COM A IGREJA
1443. Durante a sua vida pública. Jesus não
somente perdoou os pecados, como também manifestou o efeito
desse perdão: reintegrou os pecadores perdoados na
comunidade do povo de Deus, da qual o pecado os tinha
afastado ou mesmo excluído. Sinal bem claro disso é o facto
de Jesus admitir os pecadores à sua mesa, e mais ainda: de
se sentar à mesa deles, gesto que exprime ao mesmo tempo, de
modo desconcertante, o perdão de Deus (37), e o regresso ao
seio do povo de Deus (38).
1444. Ao tornar os Apóstolos participantes do seu
próprio poder de perdoar os pecados, o Senhor dá-lhes também
autoridade para reconciliar os pecadores com a Igreja. Esta
dimensão eclesial do seu ministério exprime-se,
nomeadamente, na palavra solene de Cristo a Simão Pedro:
«Dar-te-ei as chaves do Reino dos céus; tudo o que ligares
na terra ficará ligado nos céus, e tudo o que desligares na
terra ficará desligado nos céus» (Mt 16, 19). «Este
mesmo encargo de ligar e desligar, conferido a Pedro, foi
também atribuído ao colégio dos Apóstolos unidos à sua
cabeça (Mt 18,18; 28, 16-20)» (39).
1445. As palavras ligar e desligar
significam: aquele que vós excluirdes da vossa comunhão,
ficará também excluído da comunhão com Deus; aquele que de
novo receberdes na vossa comunhão, também Deus o acolherá na
sua. A reconciliação com a Igreja é inseparável da
reconciliação com Deus.
O SACRAMENTO DO PERDÃO
1446. Cristo instituiu o sacramento da Penitência
para todos os membros pecadores da sua Igreja, antes de mais
para aqueles que, depois do Baptismo, caíram em pecado grave
e assim perderam a graça baptismal e feriram a comunhão
eclesial. É a eles que o sacramento da Penitência oferece
uma nova possibilidade de se converterem e de reencontrarem
a graça da justificação. Os Padres da Igreja apresentam este
sacramento como «a segunda tábua (de salvação), depois do
naufrágio que é a perda da graça» (40).
1447. No decorrer dos séculos, a forma concreta
segundo a qual a Igreja exerceu este poder recebido do
Senhor variou muito. Durante os primeiros séculos, a
reconciliação dos cristãos que tinham cometido pecados
particularmente graves depois do Baptismo (por exemplo: a
idolatria, o homicídio ou o adultério) estava ligada a uma
disciplina muito rigorosa, segundo a qual os penitentes
tinham de fazer penitência pública pelos seus pecados,
muitas vezes durante longos anos, antes de receberem a
reconciliação. A esta «ordem dos penitentes» (que apenas
dizia respeito a certos pecados graves) só raramente se era
admitido e, em certas regiões, apenas uma vez na vida.
Durante século VII, inspirados pela tradição monástica do
Oriente, os missionários irlandeses trouxeram para a Europa
continental a prática «privada» da penitência que não exigia
a realização pública e prolongada de obras de penitência,
antes de receber a reconciliação com a Igreja. O sacramento
processa-se, a partir de então, dum modo mais secreto, entre
o penitente e o sacerdote. Esta nova prática previa a
possibilidade da repetição e abria assim o caminho a uma
frequência regular deste sacramento. Permitia integrar, numa
só celebração sacramental, o perdão dos pecados graves e dos
pecados veniais. Nas suas grandes linhas, é esta forma de
penitência que a Igreja tem praticado até aos nossos dias.
1448. Através das mudanças que a disciplina e a
celebração deste sacramento têm conhecido no decorrer dos
séculos, distingue-se a mesma estrutura fundamental. Esta
inclui dois elementos igualmente essenciais: por um lado, os
actos do homem que se converte sob a acção do Espírito
Santo, a saber, a contrição, a confissão e a satisfação: por
outro, a acção de Deus pela intervenção da Igreja. A Igreja
que, por meio do bispo e seus presbíteros, concede, em nome
de Jesus Cristo, o perdão dos pecados e fixa o modo da
satisfação, também reza pelo pecador e faz penitência com
ele. Assim, o pecador á curado e restabelecido na comunhão
eclesial.
1449. A fórmula de absolvição, em uso na Igreja
latina, exprime os elementos essenciais deste sacramento: o
Pai das misericórdias é a fonte de todo o perdão. Ele
realiza a reconciliação dos pecadores pela Páscoa do seu
Filho e pelo dom do seu Espírito, através da oração e do
ministério da Igreja:
«Deus, Pai de misericórdia, que, pela morte e
ressurreição de seu Filho, reconciliou o mundo consigo e
enviou o Espírito Santo para a remissão dos pecados, te
conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. E Eu
te absolvo dos teus pecados em nome do Pai, e do Filho e
do Espírito Santo» (41).
VII. Os actos do penitente
1450. «Poenitentia cogit peccatorem omnia
libenter sufferre; in corde eius contritio, in ore
confessio, in opere tota humilitas vel fructifera
satisfactio – A penitência leva o pecador a tudo
suportar de bom grado: no coração, a contrição; na boca, a
confissão; nas obras, toda a humildade e frutuosa
satisfação» (42).
A CONTRIÇÃO
1451. Entre os actos do penitente, a contrição
ocupa o primeiro lugar. Ela é «uma dor da alma e uma
detestação do pecado cometido, com o propósito de não mais
pecar no futuro» (43).
1452. Quando procedente do amor de Deus, amado
sobre todas as coisas, a contrição é dita «perfeita»
(contrição de caridade). Uma tal contrição perdoa as faltas
veniais: obtém igualmente o perdão dos pecados mortais, se
incluir o propósito firme de recorrer, logo que possível, à
confissão sacramental (44).
1453. A contrição dita «imperfeita» (ou «atrição»)
é, também ela, um dom de Deus, um impulso do Espírito Santo.
Nasce da consideração da fealdade do pecado ou do temor da
condenação eterna e das outras penas de que o pecador está
ameaçado (contrição por temor). Um tal abalo da consciência
pode dar início a uma evolução interior, que será levada a
bom termo sob a acção da graça, pela absolvição sacramental.
No entanto, por si mesma, a contrição imperfeita não obtém o
perdão dos pecados graves, mas dispõe para obtê-lo no
sacramento da Penitência (45).
1454. É conveniente que a recepção deste
sacramento seja preparada por um exame de consciência,
feito à luz da Palavra de Deus. Os textos mais adaptados
para este efeito devem procurar-se no Decálogo e na
catequese moral dos evangelhos e das cartas dos Apóstolos:
sermão da montanha e ensinamentos apostólicos (46).
A CONFISSÃO DOS PECADOS
1455. A confissão (a acusação) dos pecados, mesmo
de um ponto de vista simplesmente humano, liberta-nos e
facilita a nossa reconciliação com os outros. Pela
confissão, o homem encara de frente os pecados de que se
tornou culpado; assume a sua responsabilidade e, desse modo,
abre-se de novo a Deus e à comunhão da Igreja, para tornar
possível um futuro diferente.
1456. A confissão ao sacerdote constitui uma parte
essencial do sacramento da Penitência: «Os penitentes devem,
na confissão, enumerar todos os pecados mortais de que têm
consciência, após se terem seriamente examinado, mesmo que
tais pecados sejam secretíssimos e tenham sido cometidos
apenas contra os dois últimos preceitos do Decálogo (47);
porque, por vezes, estes pecados ferem mais gravemente a
alma e são mais perigosos que os cometidos à vista de todos»
(48):
«Quando os fiéis se esforçam por confessar todos os
pecados de que se lembram, não se pode duvidar de que os
apresentam todos ao perdão da misericórdia divina. Os que
procedem de modo diverso, e conscientemente ocultam
alguns, esses não apresentam à bondade divina nada que ela
possa perdoar por intermédio do sacerdote. Porque, "se o
doente tem vergonha de descobrir a sua ferida ao médico, a
medicina não pode curar o que ignora"» (49).
1457. Segundo o mandamento da Igreja, «todo o fiel
que tenha atingido a idade da discrição, está obrigado a
confessar fielmente os pecados graves, ao menos uma vez ao
ano» (50). Aquele que tem consciência de haver cometido um
pecado mortal, não deve receber a sagrada Comunhão, mesmo
que tenha uma grande contrição, sem ter previamente recebido
a absolvição sacramental (51); a não ser que tenha um motivo
grave para comungar e não lhe seja possível encontrar-se com
um confessor (52). As crianças devem aceder ao sacramento da
Penitência antes de receberem pela primeira vez a Sagrada
Comunhão (53).
1458. Sem ser estritamente necessária, a confissão
das faltas quotidianas (pecados veniais) é contudo vivamente
recomendada pela Igreja. (54) Com efeito, a confissão
regular dos nossos pecados veniais ajuda-nos a formar a
nossa consciência, a lutar contra as más inclinações, a
deixarmo-nos curar por Cristo, a progredir na vida do
Espírito. Recebendo com maior frequência, neste sacramento,
o dom da misericórdia do Pai, somos levados a ser
misericordiosos como Ele (55):
«Aquele que confessa os seus pecados e os acusa, já
está de acordo com Deus. Deus acusa os teus pecados; se tu
também os acusas, juntas-te a Deus. O homem e o pecador
são, por assim dizer, duas realidades distintas. Quando
ouves falar do homem, foi Deus que o criou: quando ouves
falar do pecador, foi o próprio homem quem o fez. Destrói
o que fizeste, para que Deus salve o que fez. [...] Quando
começas a detestar o que fizeste, é então que começam as
tuas boas obras, porque acusas as tuas obras más. O
princípio das obras boas é a confissão das más. Praticaste
a verdade e vens à luz» (56).
A SATISFAÇÃO
1459. Muitos pecados prejudicam o próximo. Há que
fazer o possível por reparar esse dano (por exemplo:
restituir as coisas roubadas, restabelecer a boa reputação
daquele que foi caluniado, indemnizar por ferimentos). A
simples justiça o exige. Mas, além disso, o pecado fere e
enfraquece o próprio pecador, assim como as suas relações
com Deus e com o próximo. A absolvição tira o pecado, mas
não remedeia todas as desordens causadas pelo pecado (57).
Aliviado do pecado, o pecador deve ainda recuperar a
perfeita saúde espiritual. Ele deve, pois, fazer mais alguma
coisa para reparar os seus pecados: «satisfazer» de modo
apropriado ou «expiar» os seus pecados. A esta satisfação
também se chama «penitência».
1460. A penitência que o confessor impõe
deve ter em conta a situação pessoal do penitente e procurar
o seu bem espiritual. Deve corresponder, quanto possível, à
gravidade e natureza dos pecados cometidos. Pode consistir
na oração, num donativo, nas obras de misericórdia, no
serviço do próximo, em privações voluntárias, sacrifícios e,
sobretudo, na aceitação paciente da cruz que temos de levar.
Tais penitências ajudam-nos a configurar-nos com Cristo,
que, por Si só, expiou os nossos pecados (58) uma vez por
todas. Tais penitências fazem que nos tornemos co-herdeiros
de Cristo Ressuscitado, «uma vez que também sofremos com
Ele» (Rm 8, 17) (59):
«Mas esta satisfação, que realizamos pelos nossos
pecados, não é possível senão por Jesus Cristo: nós que,
por nós próprios, nada podemos, com a ajuda "d'Aquele que
nos conforta, podemos tudo" (60). Assim, o homem não tem
nada de que se gloriar. Toda a nossa «glória» está em
Cristo [...] em quem nós satisfazemos, "produzindo dignos
frutos de penitência" (61), os quais vão haurir n'Ele toda
a sua força, por Ele são oferecidos ao Pai, e graças a Ele
são aceites pelo Pai» (62).
VIII. O ministro deste sacramento
1461. Uma vez que Cristo confiou aos Apóstolos o
ministério da reconciliação (63) os bispos, seus sucessores,
e os presbíteros, colaboradores dos bispos, continuam a
exercer tal ministério. Com efeito, os bispos e os
presbíteros é que têm, em virtude do sacramento da Ordem, o
poder de perdoar todos os pecados, «em nome do Pai e do
Filho e do Espírito Santo».
1462. O perdão dos pecados reconcilia com Deus mas
também com a Igreja. O bispo, chefe visível da Igreja
particular, é justamente considerado, desde os tempos
antigos, como o principal detentor do poder e ministério da
reconciliação: é o moderador da disciplina penitencial (64).
Os presbíteros, seus colaboradores, exercem-no na medida em
que receberam o respectivo encargo, quer do seu bispo (ou
dum superior religioso), quer do Papa, através do direito da
Igreja (65).
1463. Certos pecados particularmente graves são
punidos pela excomunhão, a pena eclesiástica mais severa,
que impede a recepção dos sacramentos e o exercício de
certos actos eclesiásticos (66) e cuja absolvição, por
conseguinte, só pode ser dada, segundo o direito da Igreja,
pelo Papa, pelo bispo do lugar ou por sacerdotes por eles
autorizados (67). Em caso de perigo de morte, qualquer
sacerdote, mesmo que careça da faculdade de ouvir
confissões, pode absolver de qualquer pecado e de toda a
excomunhão (68).
1464. Os sacerdotes devem exortar os fiéis a
aproximarem-se do sacramento da Penitência; e devem
mostrar-se disponíveis para a celebração deste sacramento,
sempre que os cristãos o peçam de modo razoável (69).
1465. Ao celebrar o sacramento da Penitência, o
sacerdote exerce o ministério do bom Pastor que procura a
ovelha perdida: do bom Samaritano que cura as feridas; do
Pai que espera pelo filho pródigo e o acolhe no seu
regresso; do justo juiz que não faz acepção de pessoas e
cujo juízo é, ao mesmo tempo, justo e misericordioso. Em
resumo, o sacerdote é sinal e instrumento do amor
misericordioso de Deus para com o pecador.
1466. O confessor não é dono, mas servidor do
perdão de Deus. O ministro deste sacramento deve unir-se à
intenção e à caridade de Cristo (70). Deve ter um
conhecimento comprovado do comportamento cristão,
experiência das coisas humanas, respeito e delicadeza para
com aquele que caiu; deve amar a verdade, ser fiel ao
Magistério da Igreja, e conduzir o penitente com paciência
para a cura e a maturidade plena. Deve rezar e fazer
penitência por ele, confiando-o à misericórdia do Senhor.
1467. Dada a delicadeza e a grandeza deste
ministério e o respeito devido às pessoas, a igreja declara
que todo o sacerdote que ouve confissões está obrigado a
guardar segredo absoluto sobre os pecados que os seus
penitentes lhe confessaram, sob penas severíssimas (71). Tão
pouco pode servir-se dos conhecimentos que a confissão lhe
proporciona sobre a vida dos penitentes. Este segredo, que
não admite excepções, é chamado «sigilo sacramental», porque
aquilo que o penitente manifestou ao sacerdote fica «selado»
pelo sacramento.
IX. Os efeitos deste sacramento
1468. «Toda a eficácia da Penitência consiste em
nos restituir à graça de Deus e em unir-nos a Ele numa
amizade perfeita» (72). O fim e o efeito deste sacramento
são, pois, a reconciliação com Deus. Naqueles que
recebem o sacramento da Penitência com coração contrito e
disposição religiosa, seguem-se-lhe «a paz e a tranquilidade
da consciência, acompanhadas duma grande consolação
espiritual» (73). Com efeito, o sacramento da reconciliação
com Deus leva a uma verdadeira «ressurreição espiritual», à
restituição da dignidade e dos bens próprios da vida dos
filhos de Deus, o mais precioso dos quais é a amizade do
mesmo Deus (74).
1469. Este sacramento reconcilia-nos com a
Igreja. O pecado abala ou rompe a comunhão fraterna. O
sacramento da Penitência repara-a ou restaura-a. Nesse
sentido, não se limita apenas a curar aquele que é
restabelecido na comunhão eclesial, mas também exerce um
efeito vivificante sobre a vida da Igreja que sofreu com o
pecado de um dos seus membros (75). Restabelecido ou
confirmado na comunhão dos santos, o pecador é
fortalecido pela permuta de bens espirituais entre todos os
membros vivos do corpo de Cristo, quer vivam ainda em estado
de peregrinos, quer já tenham atingido a pátria celeste
(76):
«É de lembrar que a reconciliação com Deus tem como
consequência, por assim dizer, outras reconciliações, que
trarão remédio a outras rupturas produzidas pelo pecado: o
penitente perdoado reconcilia-se consigo mesmo no mais
profundo do seu ser, onde recupera a própria verdade
interior: reconcilia-se com os irmãos, que de algum modo
ofendeu e magoou: reconcilia-se com a Igreja;
reconcilia-se com toda a criação» (77).
1470. Neste sacramento, o pecador, remetendo-se ao
juízo misericordioso de Deus, de certo modo antecipa o
julgamento a que será submetido no fim desta vida
terrena. É aqui e agora, nesta vida, que nos é oferecida a
opção entre a vida e a morte. Só pelo caminho da conversão é
que podemos entrar no Reino de onde o pecado grave nos
exclui? (78). Convertendo-se a Cristo pela penitência e pela
fé, o pecador passa da morte à vida «e não é sujeito a
julgamento» (Jo 5, 24).
X. As indulgências
1471. A doutrina e a prática das indulgências na
Igreja estão estreitamente ligadas aos efeitos do sacramento
da Penitência.
O QUE É A INDULGÊNCIA?
«A indulgência é a remissão, perante Deus, da pena
temporal devida aos pecados cuja culpa já foi
apagada; remissão que o fiel devidamente disposto obtém em
certas e determinadas condições, pela acção da Igreja, a
qual, enquanto dispensadora da redenção, distribui e aplica
por sua autoridade o tesouro das satisfações de Cristo e dos
santos» (79). «A indulgência é parcial ou plenária,
consoante liberta parcialmente ou na totalidade da pena
temporal devida ao pecado» (80). «O fiel pode lucrar para si
mesmo as indulgências [...], ou aplicá-las aos defuntos»
(81).
AS PENAS DO PECADO
1472. Para compreender esta doutrina e esta
prática da Igreja, deve ter-se presente que o pecado tem
uma dupla consequência. O pecado grave priva-nos da
comunhão com Deus e, portanto, torna-nos incapazes da vida
eterna, cuja privação se chama «pena eterna» do pecado. Por
outro lado, todo o pecado, mesmo venial, traz consigo um
apego desordenado às criaturas, o qual precisa de ser
purificado, quer nesta vida quer depois da morte, no estado
que se chama Purgatório. Esta purificação liberta do que se
chama «pena temporal» do pecado. Estas duas penas não devem
ser consideradas como uma espécie de vingança, infligida por
Deus, do exterior, mas como algo decorrente da própria
natureza do pecado. Uma conversão procedente duma caridade
fervorosa pode chegar à total purificação do pecador, de
modo que nenhuma pena subsista (82).
1473. O perdão do pecado e o restabelecimento da
comunhão com Deus trazem consigo a abolição das penas
eternas do pecado. Mas subsistem as penas temporais. O
cristão deve esforçar-se por aceitar, como uma graça, estas
penas temporais do pecado, suportando pacientemente os
sofrimentos e as provações de toda a espécie e, chegada a
hora, enfrentando serenamente a morte: deve aplicar-se,
através de obras de misericórdia e de caridade, bem como
pela oração e pelas diferentes práticas da penitência, a
despojar-se completamente do «homem velho» e a revestir-se
do «homem novo» (83).
NA COMUNHÃO DOS SANTOS
1474. O cristão que procura purificar-se do seu
pecado e santificar-se com a ajuda da graça de Deus, não se
encontra só. «A vida de cada um dos filhos de Deus está
ligada de modo admirável, em Cristo e por Cristo, à vida de
todos os outros irmãos cristãos, na unidade sobrenatural do
corpo Místico de Cristo, como que numa pessoa mística» (84).
1475. Na comunhão dos santos, «existe, portanto,
entre os fiéis – os que já estão na pátria celeste, os que
foram admitidos à expiação do Purgatório, e os que vivem
ainda peregrinos na terra – um constante laço de amor e uma
abundante permuta de todos os bens» (85). Nesta admirável
permuta, a santidade de um aproveita aos demais, muito para
além do dano que o pecado de um tenha podido causar aos
outros. Assim, o recurso à comunhão dos santos permite ao
pecador contrito ser purificado mais depressa e mais
eficazmente das penas do pecado.
1476. A estes bens espirituais da comunhão dos
santos, também lhes chamamos o tesouro da Igreja,
«que não é um somatório de bens, como quando se trata das
riquezas materiais acumuladas no decurso dos séculos, mas
sim o preço infinito e inesgotável que têm junto de Deus as
expiações e méritos de Cristo, nosso Senhor, oferecidos para
que a humanidade seja liberta do pecado e chegue à comunhão
com o Pai. É em Cristo, nosso Redentor, que se encontram em
abundância as satisfações e os méritos da sua redenção
(86)».
1477. «Pertencem igualmente a este tesouro o preço
verdadeiramente imenso, incomensurável e sempre novo que têm
junto de Deus as orações e boas obras da bem‑aventurada
Virgem Maria e de todos os santos, que se santificaram pela
graça de Cristo, seguindo as suas pegadas, e que realizaram
uma obra agradável ao Pai; de modo que, trabalhando pela sua
própria salvação, igualmente cooperaram na salvação dos seus
irmãos na unidade do corpo Místico» (87).
OBTER A INDULGÊNCIA DE DEUS MEDIANTE A IGREJA
1478. A indulgência obtém-se mediante a Igreja
que, em virtude do poder de ligar e desligar que lhe foi
concedido por Jesus Cristo, intervém a favor dum cristão e
lhe abre o tesouro dos méritos de Cristo e dos santos, para
obter do Pai das misericórdias o perdão das penas temporais
devidas pelos seus pecados. É assim que a Igreja não quer
somente vir em ajuda deste cristão, mas também incitá-lo a
obras de piedade, penitência e caridade» (88).
1479. Uma vez que os fiéis defuntos, em vias de
purificação, também são membros da mesma comunhão dos
santos, nós podemos ajudá-los, entre outros modos, obtendo
para eles indulgências, de modo que sejam libertos das penas
temporais devidas pelos seus pecados.
XI. A celebração do sacramento da Penitência
1480. Tal como todos os sacramentos, a Penitência
é uma acção litúrgica. Ordinariamente, os elementos da sua
celebração são os seguintes: saudação e bênção do sacerdote,
leitura da Palavra de Deus para iluminar a consciência e
suscitar a contrição e exortação ao arrependimento: a
confissão que reconhece os pecados e os manifesta ao
sacerdote; a imposição e aceitação da penitência; a
absolvição do sacerdote; o louvor de acção de graças e a
despedida com a bênção do sacerdote.
1481. A liturgia bizantina tem várias fórmulas de
absolvição, em forma deprecativa, que exprimem
admiravelmente o mistério do perdão: «Deus, que pelo profeta
Natan perdoou a David, quando ele confessou os seus próprios
pecados, a Pedro depois de ele ter chorado amargamente, à
pecadora depois de ela ter derramado lágrimas a seus pés, ao
publicano e ao pródigo, este mesmo Deus vos perdoe, por
intermédio de mim pecador, nesta vida e na outra, e vos faça
comparecer, sem vos condenar no seu temível tribunal: Ele
que é bendito pelos séculos dos séculos. Ámen» (89).
1482. O sacramento da Penitência pode também ter
lugar no âmbito duma celebração comunitária, na qual
se faz uma preparação conjunta para a confissão e
conjuntamente se dão graças pelo perdão recebido. Neste
caso, a confissão pessoal dos pecados e a absolvição
individual são inseridas numa liturgia da Palavra de Deus,
com leituras e homilia, exame de consciência feito em comum,
pedido comunitário de perdão, oração do Pai Nosso e acção de
graças em comum. Esta celebração comunitária exprime mais
claramente o carácter eclesial da penitência. No entanto,
seja qual for a forma da sua celebração, o sacramento da
Penitência é sempre, por sua própria natureza, uma acção
litúrgica, portanto eclesial e pública (90).
1483. Em casos de grave necessidade, pode-se
recorrer à celebração comunitária da reconciliação, com
confissão geral e absolvição geral. Tal necessidade
grave pode ocorrer quando há perigo iminente de morte, sem
que o sacerdote ou os sacerdotes tenham tempo suficiente
para ouvir a confissão de cada penitente. A necessidade
grave pode existir também quando, tendo em conta o número
dos penitentes, não há confessores bastantes para ouvir
devidamente as confissões individuais num tempo razoável, de
modo que os penitentes, sem culpa sua, se vejam privados,
durante muito tempo, da graça sacramental ou da sagrada
Comunhão. Neste caso, para a validade da absolvição, os
fiéis devem ter o propósito de confessar individualmente os
seus pecados graves em tempo oportuno (91). Pertence ao
bispo diocesano julgar se as condições requeridas para a
absolvição geral existem (92). Uma grande afluência de
fiéis, por ocasião de grandes festas ou de peregrinações,
não constitui um desses casos de grave necessidade (93).
1484. «A confissão individual e íntegra e a
absolvição constituem o único modo ordinário pelo qual o
fiel, consciente de pecado grave, se reconcilia com Deus e
com a Igreja: somente a impossibilidade física ou moral o
escusa desta forma de confissão» (94). Há razões profundas
para que assim seja. Cristo age em cada um dos sacramentos.
Ele dirige-Se pessoalmente a cada um dos pecadores: «Meu
filho, os teus pecados são-te perdoados» (Mc 2, 5);
Ele é o médico que Se inclina sobre cada um dos doentes com
necessidade d'Ele (95) « para os curar: alivia-os e
reintegra-os na comunhão fraterna. A confissão pessoal é,
pois, a forma mais significativa da reconciliação com Deus e
com a Igreja.
Resumindo:
1485. «Na tarde da Páscoa, o Senhor Jesus
apareceu aos seus Apóstolos e disse-lhes: "Recebei o
Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados
ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes
ser-lhes-ão retidos"» (Jo 20, 22-23).
1486. 0 perdão dos pecados cometidos depois do
Baptismo é concedido por meio dum sacramento próprio,
chamado sacramento da Conversão, da Confissão, da Penitência
ou da Reconciliação.
1487. Quem peca, ofende a honra de Deus e o seu
amor, a sua própria dignidade de homem chamado a ser filho
de Deus, e o bem-estar espiritual da Igreja, da qual cada
fiel deve ser pedra viva.
1488. Aos olhos da fé, não existe mal mais
grave do que o pecado; nada tem piores consequências para os
próprios pecadores, para a Igreja e para todo o mundo.
1489. Voltar à comunhão com Deus, depois
de a ter perdido pelo pecado, é um movimento nascido da
graça do mesmo Deus misericordioso e cheio de interesse pela
salvação dos homens. Deve pedir-se esta graça preciosa,
tanto para si mesmo como para os outros.
1490. O movimento de regresso a Deus,
pela conversão e arrependimento, implica dor e aversão em
relação aos pecados cometidos, e o propósito firme de não
tornar a pecar no futuro. Portanto, a conversão refere-se ao
passado e ao futuro: alimenta-se da esperança na
misericórdia divina.
1491. O sacramento da Penitência é constituído
pelo conjunto de três actos realizados pelo penitente e pela
absolvição do sacerdote. Os actos do penitente são: o
arrependimento, a confissão ou manifestação dos pecados ao
sacerdote e o propósito de cumprir a reparação e as obras de
reparação.
1492. O arrependimento (também chamado
contrição) deve inspirar-se em motivações que brotam da fé.
Se for motivado pelo amor de caridade para com Deus, diz-se
«perfeito»; se fundado em outros motivos, diz-se
«imperfeito».
1493. Aquele que quer obter a
reconciliação com Deus e com a Igreja, deve confessar ao
sacerdote todos os pecados graves que ainda não tiver
confessado e de que se lembre depois de ter examinado
cuidadosamente a sua consciência. A confissão das faltas
veniais, sem ser em si necessária, é todavia vivamente
recomendada pela Igreja.
1494. O confessor propõe ao penitente o
cumprimento de certos actos de «satisfação» ou «penitência»,
com o fim de reparar o mal causado pelo pecado e
restabelecer os hábitos próprios dum discípulo de Cristo.
1495. Só os sacerdotes que receberam da
autoridade da Igreja a faculdade de absolver; podem perdoar
os pecados em nome de Cristo.
1496. Os efeitos espirituais do sacramento da
Penitência são:
– a reconciliação com Deus, pela qual o penitente
recupera a graça;
– a reconciliação com a Igreja;
– a remissão da pena eterna, em que incorreu pelos
pecados mortais;
– a remissão, ao menos em parte, das penas
temporais, consequência do pecado;
– a paz e a serenidade da consciência e a
consolação espiritual;
– o acréscimo das forças espirituais para o combate
cristão.
1497. A confissão individual e integral dos
pecados graves, seguida da absolvição, continua a ser o
único meio ordinário para a reconciliação com Deus e com a
Igreja.
1495. Por meio das indulgências, os fiéis podem
obter para si próprios, e também para as almas do
Purgatório, a remissão das penas temporais, consequência do
pecado.
(Fonte: CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA.
Disponível em
http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p2s2cap1_1420-1532_po.html.
Acesso em 04 mar. 2012