QUARESMA QUARTA-FEIRA DE CINZAS Com a imposição das cinzas, se inicia uma estação espiritual particularmente relevante para todo cristão que quer se preparar dignamente para viver o Mistério Pascal, quer dizer, a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus. Este tempo vigoroso do Ano litúrgico se caracteriza pela mensagem bíblica que pode ser resumida em uma palavra: " matanoeiete", que quer dizer "Convertei-vos". Este imperativo é proposto à mente dos fiéis mediante o austero rito da imposição das cinzas, o qual, com as palavras "Convertei-vos e crede no Evangelho" e com a expressão "Lembra-te de que és pó e para o pó voltarás", convida a todos a refletir sobre o dever da conversão, recordando a inexorável caducidade e efêmera fragilidade da vida humana, sujeita à morte.
A sugestiva cerimônia das cinzas eleva
nossas mentes à realidade eterna que não passa jamais, a
Deus; princípio e fim, alfa e ômega de nossa existência. A
conversão não é, com efeito, nada mais que um voltar a Deus,
valorizando as realidades terrenas sob a luz indefectível de
sua verdade. Uma valorização que implica uma consciência
cada vez mais diáfana do fato de que estamos de passagem
neste fadigoso itinerário sobre a terra, e que nos
impulsiona e estimula a trabalhar até o final, a fim de que
o Reino de Deus se instaure dentro de nós e triunfe em sua
justiça.
Tradição
Na Igreja primitiva, variava a duração
da Quaresma, mas eventualmente começava seis semanas (42
dias) antes da Páscoa. |
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A Semana Santa na vida
da Igreja
Os cristãos sempre consideraram que a Igreja nasceu da Páscoa de
Cristo. Na cruz, diz o Evangelho, Cristo inclinou a cabeça e “entregou o
Espírito”. Ele se manifesta vivo e ressuscitado no meio dos discípulos, e estes
são testemunhas da sua presença no mundo. Por isso a Páscoa é o centro da vida e
da fé dos cristãos. Todos somos chamados a participar da vida nova do Cristo
ressuscitado, morrendo para o pecado e a todas as suas manifestações e
conseqüências, e vivendo desde já como comunidade de ressuscitados. Esta é a
missão da Igreja: testemunhar a nova criação que Deus iniciou no mundo,
ressuscitando Jesus Cristo. Pelo serviço concreto à transformação deste mundo,
colaboramos com a salvação que o Senhor vem trazer a todos. Para que esta
obra pascal se torne sempre mais completa, a Igreja tem de vivê-la e precisa
também celebrá-la como sacramento de Deus, isto é, sinal e instrumento da ação
dele. Celebrando com fé e alegria a Páscoa do Senhor, temos uma profecia e
início fecundo desta renovação do mundo. Cada domingo os cristãos se reúnem para
celebrar a Páscoa. Entretanto, desde os primeiros séculos do cristianismo, o
povo de Deus gosta de intensificar esta celebração uma vez por ano. A Quaresma
nos prepara para este grande sacramento. No Brasil, à celebração da Páscoa a
Igreja católica liga assunto atual, um problema que está sendo preocupante e
merece a dedicação solidária e fraterna dos cristãos, para que a Páscoa
celebrada realmente tome forma de transformação da morte para a vida, de
situações de escravidão para a liberdade. Trata-se da Campanha da Fraternidade,
que deve dar mais ênfase às celebrações pascais e nunca diluí-las em mera
propaganda religiosa. A Semana Santa merece ser vivida em clima de oração
pessoal, esforço de conversão e maior dedicação fraterna. Do Domingo de Ramos
até a Quinta-feira Santa, completamos o grande retiro quaresmal. Com a Missa da
Ceia do Senhor na Quinta-feira à tarde, iniciamos o Tríduo pascal da morte
e ressurreição do Senhor. O cume de todas as celebrações é a Vigília pascal na
noite de sábado, madrugada de domingo. Essa Vigília se desdobra na alegria do
Domingo da Ressurreição e nos cinqüenta dias do Tempo pascal, o
Pentecostes sagrado, que é considerado como que um único e grande domingo. As
celebrações devem ser bem preparadas, e tanto seu conteúdo como sua forma
merecem todo o zelo. Não podem ser meros espetáculos litúrgicos destinados a nos
comover. Não são também apenas reuniões catequéticas feitas para instruir ou
para conscientizar as pessoas. Não são comemorações nostálgicas de
acontecimentos ocorridos vinte séculos atrás. Cada celebração se situa como
memorial do Senhor, o que é uma retomada da lembrança dos fatos antigos da
salvação para viver e aplicar a eficácia atual que eles têm. É uma realização da
Igreja convocada para atualizar permanentemente a Páscoa do Senhor, nos sinais
litúrgicos e principalmente no compromisso de construção do Reino de Deus.
Assim, a Igreja que somos nós completa hoje o que falta à Paixão do Cristo (Cl
1,24). (Do livro Semana Santa — Anos A,B,C, Paulus, São Paulo, 4ª
ed., 1998, pp. 5-6).
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